Falhas de interpretação de textos podem decorrer de:
• Leitura deficitária seja em relação à velocidade ou decorrente de pobre consciência fonológica ou disprosódia (quebra do ritmo e da pontuação);
• Déficit de memória operacional impedindo o acesso ao processo semântico por falha de memorização imediata do conteúdo lexical;
• Déficit de atenção que, em geral, determina situações como extrapolação ou fragmentação das informações e, conseqüentemente, erros de síntese. A dificuldade de manutenção da atenção ou de gerar atenção compartilhada para duas funções simultâneas (leitura e interpretação) pode determinar interferência significativa sobre a habilidade de interpretar sentenças lidas;
• Limitação de vocabulário, seja de palavras nucleares ou de elementos conectivos;
• Falha de flexibilização em situações de transposição ou inversão sintática;
• Falha de integração entre os sistemas lexical e semântico;
• Falha de seleção de significados de acordo com o contexto em situações de ambigüidade semântica;
• Falhas de simbolização e de abstração a partir de informações no plano metafórico.
A interpretação de informações lidas se baseia em uma interação complexa entre redes neurais independentes. Estudos mostram que lesões ou disfunções do hemisfério direito podem interferir na geração de inferências durante o processo de leitura, produzindo prejuízo na ativação de bases léxico-semânticas, que são essenciais para a compreensão.
A compreensão de texto requer duas etapas. A primeira diz respeito ao acesso lexical palavra por palavra e a segunda se refere à integração de significados de acordo com a informação contextual. Dessa forma, quando existem falhas de domínio semântico de palavras isoladas, seja de unidades semânticas elementares ou vocábulos nucleares (prominent words), seja de elementos conectivos (em geral, advérbios, preposições, pronomes) a capacidade de interpretação se apresenta deficitária. Este fato sugere que, quanto maior a intensidade da experiência com o idioma no nível de linguagem oral, maior a possibilidade de que a criança possa ter um desempenho adequado no processo interpretativo textual.
Em geral, a ativação de áreas corticais é menor durante leitura de textos com significado único que aqueles contendo informações ambíguas. Para compreensão de textos ambíguos, é necessário que haja cooperação inter-hemisférica. Atividades que requerem manipulação ou seleção semântica estão relacionadas à ativação bilateral de áreas distintas do córtex, sobretudo nos lobos frontal e temporal. Em geral, ocorre maior ativação de áreas quando o significado das palavras ambíguas está balanceado (mesmo probabilidade entre dois significados) do que quando está tendencioso (um significado é mais provável que os demais). Nessa segunda situação, existe a necessidade de ativação mais ampla de áreas corticais.
Quando a interpretação de palavras tendenciosas ambíguas é seguida de seleção de significado impróprio, o córtex frontal superior ativa em resposta à quebra da coerência e, em seguida, ocorre ativação do giro frontal inferior direito e da insula para suprimir a interpretação incoerente.
Para crianças que apresentam dificuldade de interpretar textos é necessário identificar as variáveis envolvidas. A partir daí, é possível estabelecer um programa de intervenção psicopedagógica ou neuropsicológica individualizado e construído de acordo com bases neurofisiológicas objetivas.