quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A criança com dificuldade para compreender o que lê

Falhas de interpretação de textos podem decorrer de:
• Leitura deficitária seja em relação à velocidade ou decorrente de pobre consciência fonológica ou disprosódia (quebra do ritmo e da pontuação);
• Déficit de memória operacional impedindo o acesso ao processo semântico por falha de memorização imediata do conteúdo lexical;
• Déficit de atenção que, em geral, determina situações como extrapolação ou fragmentação das informações e, conseqüentemente, erros de síntese. A dificuldade de manutenção da atenção ou de gerar atenção compartilhada para duas funções simultâneas (leitura e interpretação) pode determinar interferência significativa sobre a habilidade de interpretar sentenças lidas;
• Limitação de vocabulário, seja de palavras nucleares ou de elementos conectivos;
• Falha de flexibilização em situações de transposição ou inversão sintática;
• Falha de integração entre os sistemas lexical e semântico;
• Falha de seleção de significados de acordo com o contexto em situações de ambigüidade semântica;
• Falhas de simbolização e de abstração a partir de informações no plano metafórico.
A interpretação de informações lidas se baseia em uma interação complexa entre redes neurais independentes. Estudos mostram que lesões ou disfunções do hemisfério direito podem interferir na geração de inferências durante o processo de leitura, produzindo prejuízo na ativação de bases léxico-semânticas, que são essenciais para a compreensão.
A compreensão de texto requer duas etapas. A primeira diz respeito ao acesso lexical palavra por palavra e a segunda se refere à integração de significados de acordo com a informação contextual. Dessa forma, quando existem falhas de domínio semântico de palavras isoladas, seja de unidades semânticas elementares ou vocábulos nucleares (prominent words), seja de elementos conectivos (em geral, advérbios, preposições, pronomes) a capacidade de interpretação se apresenta deficitária. Este fato sugere que, quanto maior a intensidade da experiência com o idioma no nível de linguagem oral, maior a possibilidade de que a criança possa ter um desempenho adequado no processo interpretativo textual.
Em geral, a ativação de áreas corticais é menor durante leitura de textos com significado único que aqueles contendo informações ambíguas. Para compreensão de textos ambíguos, é necessário que haja cooperação inter-hemisférica. Atividades que requerem manipulação ou seleção semântica estão relacionadas à ativação bilateral de áreas distintas do córtex, sobretudo nos lobos frontal e temporal. Em geral, ocorre maior ativação de áreas quando o significado das palavras ambíguas está balanceado (mesmo probabilidade entre dois significados) do que quando está tendencioso (um significado é mais provável que os demais). Nessa segunda situação, existe a necessidade de ativação mais ampla de áreas corticais.
Quando a interpretação de palavras tendenciosas ambíguas é seguida de seleção de significado impróprio, o córtex frontal superior ativa em resposta à quebra da coerência e, em seguida, ocorre ativação do giro frontal inferior direito e da insula para suprimir a interpretação incoerente.

Para crianças que apresentam dificuldade de interpretar textos é necessário identificar as variáveis envolvidas. A partir daí, é possível estabelecer um programa de intervenção psicopedagógica ou neuropsicológica individualizado e construído de acordo com bases neurofisiológicas objetivas.





Disfasia do Desenvolvimento

A disfasia é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por falha na aquisição da linguagem decorrente de disfunções encefálica envolvendo circuitos relacionados à compreensão, desenvolvimento e programação da linguagem oral
Para que o diagnóstico de disfasia seja feito, é necessário preencher alguns critérios
▪Manifestações precoces
▪Ausência de componente degenerativo
▪O transtorno da linguagem não pode ser atribuído a outras condições, como déficit auditivo, retardo mental, autismo ou privação social
▪Na presença de qualquer situação associada, o transtorno de linguagem é maior do que o esperado
De modo geral, atraso da aquisição da linguagem oral tem sido identificado em 7% de crianças na idade escolar. Disfasia de grau variado pode ser observada em 0,5 a 2,0%.
Etiologia
A disfasia pode ser congênita ou adquirida em uma fase da infância que antecede a aquisição de linguagem oral. A etiologia é desconhecida na maioria dos casos. Influência genética pode ser observada em cerca de sessenta por cento dos casos. Entre parentes diretos de crianças disfásicas é possível encontrar casos de TDAH, discalculia, dislexia ou disfasia. Erros de migração neuronal, heterotopias corticais ou subcorticais, atraso da mielinização ou lesões isquêmicas por oclusão vascular são as principais causas.

Tipos de Disfasia

A falha no processo de decodificação fonológica com conseqüente comprometimento da habilidade de compreender o que ouve é decorrente de lesões ou disfunções envolvendo o lobo temporal. Essa situação é denominada disfasia de compreensão ou sensorial ou receptiva.
Por outro lado, lesões ou disfunções no lobo frontal no hemisfério dominante para linguagem determinam dificuldade no planejamento dos atos motores necessários para produção ou encadeamento fonológico. Essa situação é denominada disfasia expressiva ou motora.
Tratamento
O tratamento se baseia em intervenção social, abordagem fonoterápica e acompanhamento psicopedagógico ou psicológico de acordo com as demandas observadas. O passo inicial é orientar a família sobre a importância de permitir que a criança expresse seus atos comunicativos. Isso é muito difícil porque, na época do diagnóstico, os pais, em geral já assumiram o papel de mediador verbal, interpondo-se entra a criança e o mundo que a rodeia. Essa mudança de atitude é crucial para que outras estratégias sejam inseridas. As estratégias se baseiam em três aspectos: dar à criança oportunidade de se comunicar, estimular os sinais de intenção e desejo comunicativo e estimulá-la a adquirir um vocabulário receptivo que a permita avançar na compreensão da linguagem verbal. É importante reforçar que existem vários caminhos e o trajeto vai ser percorrido com tentativas de acertos e com erros. Isso vai nos permitir conduzir a criança para uma situação de comunicação mais efetiva.